A hora da produção de um artigo acadêmico, como bem sabemos, é geradora de preocupação, ansiedade, nervosismo, stress. Mesmo quando temos em mente boas idéias e objetivos bem definidos, sentimo-nos inseguros e até mesmo amedrontados diante do papel e da caneta, antes tão insignificantes.
Então, considerando que as três turmas da disciplina LPTA estão trabalhando na produção da Introdução de um Artigo Acadêmico, a monitoria sugere que vocês tomem por base as seguintes observações:
- A introdução do seu trabalho é como um cartão de visita, que deve ser claro, objetivo, limpo, direcionado à temática eleita.
- É importante observar que a introdução deve estar em eqüidade com o tamanho do trabalho proposto, ou seja, um trabalho de 30 laudas, não pode apresentar uma introdução de 5 laudas. O ideal é que conte com 2 laudas, aproximadamente, o que será suficiente para expor, de forma sucinta, a natureza da pesquisa elaborada.
- É imprescindível salientar que uma boa introdução aborda a natureza do trabalho e a intencionalidade deste, pincelando de forma sutil as informações contidas ao longo da pesquisa, sem aprofundamento demasiado, e nem distanciamento da temática proposta.
- A introdução do seu trabalho deve funcionar como um cardápio, que incentiva e motiva a leitura do artigo, de forma a torná-lo interessante e eficiente aos olhos de quem o lê.
- O título: A primeira impressão é a que fica. O título é a referência principal do seu trabalho. Um bom título contém poucas palavras, o necessário para descrever adequadamente e especificamente o conteúdo do artigo. O mapa semântico pode ser de grande ajuda para a delimitação do título do artigo.
- Resumo: um parágrafo, geralmente com até 250 palavras. Pode ser considerado uma propaganda ou trailer do artigo: é o primeiro contato com o trabalho, é o que atrai a atenção e o interesse do leitor. Apresenta de forma concisa - uma ou duas linhas para cada item - os principais objetivos e escopo do trabalho, motivação e importância, principal resultado ou contribuição. O resumo nunca menciona informações ou conclusões que não estão presentes no texto. Referências bibliográficas não são citadas no resumo.
Vejamos agora a adaptação do modelo CARS (Create a research space), elaborado por Swales (1990) para a unidade de introdução de artigos de pesquisa:
MOVIMENTO 1 |
Estabelecer um território | Passo 1 | Estabelecer a importância da pesquisa e/ou | Passo 2 | Fazer generalizações e/ou | Passo 3 | Revisar a literatura | MOVIMENTO 2 | Estabelecer um nicho | Passo 1A | Contra-argumentar ou | Passo 1B | Indicar lacunas no conhecimento estabelecido ou | Passo 1C | Provocar questionamentos ou | Passo 1D | Continuar a tradição | MOVIMENTO 3 | Ocupar o nicho
| Passo 1A | Delinear os objetivos ou | Passo 1B | Apresentar a pesquisa | Passo 2 | Anunciar principais resultados | Passo 3 | Indicar a estrutura do artigo | |
Para uma melhor compreensão de como ocorrem esses três momentos, observe uma introdução, retirada do artigo “A Ortografia no Gênero Weblog: Entre a escrita digital e a escrita escolar” de Roberta Virginha Ramos Caiado.
“É perceptível o fato de que as relações interpessoais e lingüísticas entre os sujeitos estão se modificando, na medida em que interagem com o outro, mediados pelo computador conectado à Internet. Tamanha a inserção do computador nas práticas sociais que é possível afirmar que ele já é constitutivo da ‘nova identidade humana’, se é que podemos denominar de ‘nova’ as relações de mobilidade, troca, diálogo, escrita, que se estabelecem entre os indivíduos interligados pelas tecnologias, em especial, a telemática digital.
Aqui, a pesquisadora, realiza o Movimento 1. Mais precisamente, esse parágrafo pode ser incluído no Passo 2, que consiste em fazer generalizações sobre o assunto. Geralmente, as introduções começam assim.
É nesse novo contexto que um estudo mais minucioso sobre a escrita utilizada nos ambientes virtuais se torna tema relevante de pesquisa, na medida em que auxiliará no entendimento das novas práticas que surgem através da escrita do discurso eletrônico e das ‘transgressões’ realizadas por sujeitos em suas demais manifestações de escrita, sejam elas escolares ou não.
Já neste momento, a autora cumpre o Passo 1 ainda do primeiro Movimento. Observe que Virginha Caiado usa um termo bastante revelador (se torna tema relevante de pesquisa), içando-nos assim, a relevância de sua pesquisa.
Com base nessas considerações, temos por objetivo no presente capítulo, relatar uma pesquisa que desenvolvemos com o intuito de verificar se a notação escrita digital, produzida no gênero weblog de adolescentes, influencia a notação escrita escolar.
Agora, a estudiosa evidencia o Passo 1A do Movimento 3: é o momento em que se apresentam os objetivos da pesquisa.
Com base em uma concepção interacionista de linguagem, abordaremos a questão dos gêneros discursivos com base nas idéias de Bakhtin (2003) e dos gêneros emergentes à luz das considerações de Marcuschi & Xavier (2004).
Esse trecho insere-se no Passo 3 do primeiro Movimento. Nele, a autora, explicita ao leitor em que teóricos sua pesquisa se fundamentará.
Na seqüência, discutiremos sobre as questões ortográficas que brotam dentro de um novo gênero informático-midiático apoiados nas reflexões de Morais (2000). Para concluir o capítulo, à luz das idéias de Santos (2003; 2005), analisaremos a notação ortográfica na esfera digital de duas adolescentes "bloguistas”.
Virginha Caiado realiza, por fim, o Passo 3 do Movimento 3. Indicar a estrutura do artigo para finalizar a Introdução.
CAIADO, Roberta Varginha Ramos. A Ortografia no Gênero
Weblog: Entre a escrita digital e a escrita escolar. In ARAÚJO, Júlio César. (ORG) Internet & Ensino: novos gêneros, outros desafios. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007, pp. 35-47.